AMAZONAS – Com o corpo ereto e joelhos na posição dos pés, foi assim que a pequena e talentosa bailarina Aglynes Máina, de 13 anos, arrancou aplausos, choro de alegria e admiração de crianças e moradores das áreas alagadas de Parintins, após realizar um ensaio fotográfico se equilibrando em cima de ‘marombas’ (pontes improvisadas que facilitam a entrada e saída dos moradores de suas casa em tempo de cheia), a convite de seu professor de Ballet e pai, Gledson Oliveira para um trabalho de faculdade. O ensaio foi realizado no 14 de maio, no bairro São Francisco, próximo a feira municipal.
De acordo com o pai da bailarina, idealizador, produtor do trabalho, bailarino e aluno de fotografia, Gledson Oliveira, o ensaio faz parte de um trabalho acadêmico orientado pelo professor de Introdução à Fotografia, Marcelo Rodrigo, do curso de Artes Visual da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Na atividade, o aluno precisa realizar fotos externas com gêneros livres, um ensaio fotográfico ou selecionar fotos de cada gênero e criar uma conta no Instagram, publicar na internet e lá o trabalho seria avaliado. “Como minha área é performance, eu sou professor de dança no Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro, a dança é a minha linguagem artística. E quando eu vi a intervenção da enchente logo pensei em fazer um trabalho artístico aqui mostrando as dificuldades que estamos enfrentando”, disse Gledson que até então não sabia fotografar e com a ajuda da filha embarcou no desafio.
Inspiração
“Eu fui para casa, pensei bem no gênero performance e fui para os locais que estão alagados na nossa ilha e comecei a observar as garças brancas amazônicas cada vez mais próximas da população, por conta do nível da água que se elevou. Eu falei assim – Por que não trazer um pouco da leveza da garça, da pureza da cor das vestes branca sendo representada por uma bailarina clássica? – veio na mente a ideia do ‘Lago dos Cisnes’ uma releitura de uma maneira regionalizada. Eu convidei a minha filha que já dança desde os 5 anos de idade, que é apaixonada pelo balé, organizei o figurino e fomos fazer as fotos”, revelou o Gledson todo orgulhoso do talento da pequena Aglynes.
Repercussão
Conforme o acadêmico de artes, o ensaio intitulado ‘Elevé Acaraú’ (ELEVÉ é um movimento do Balé e significa Elevar, e ARACAÚ é de origem Tupi e significa Rio das garças – ELEVAÇÃO DO RIO DAS GARÇAS), tem como objetivo mostrar a realidade dos moradores daquela região e com a intervenção artística fazer com que crianças possam sonhar com um futuro melhor.
A menina contou com exclusividade para o Repórter Manaós que não imaginava o tamanho da repercussão das fotos. “Quando meu pai me convidou, aceitei. Pegamos as coisas, a roupa e fomos. Quando chegamos no local todo mundo ficou olhando. Foi algo muito diferente”.
“Foi muito gratificante fazer o ensaio fotográfico ali, as crianças acompanhando nas janelas de suas casas alagadas com os olhos cheio de lágrimas, meio que não acreditando no que estavam vendo. Muitos aplaudiram e outros perguntavam se ela iria dançar balé na ponte. Uns senhores nos procuraram e falaram para fazer as fotos em outro lugar mais bonito – Por que vocês não procuram uma praça, é mais bonito para tirar foto ou outra área aqui está tudo feio, tá tudo alagado as casas estão no fundo? – Eu respondi: – Meu senhor essa é a proposta, mostrar as dificuldade e realidade que vocês estão enfrentando mais trazendo um toque artístico’.
O pai babão e aspirante a fotógrafo agradeceu a ajuda da amiga e fotógrafa Maeli Miranda que com apoio e dicas o instruiu durante a produção e ensaio. “Foi meu primeiro ensaio fotográfico. Sou muito grato pelo suporte técnico da Maeli, fiz as fotos com um celular A51 e ela foi junto me orientando”.
Sonho
Com uma longa carreira na dança e ainda estudando, a jovem bailarina revelou que sonha em ir para o Bolshoi Ballet Academy que tem escola no Brasil. “O meu maior sonho é ser uma grande bailarina e ser reconhecida pelo meu trabalho. Eu sonho em viajar e conhecer a cidade catarinense de Joinville eu quero muito entrar para essa escola e depois trazer esse conhecimento para Parintins e ajudar as outras crianças e contribuir com os sonhos delas”, confidenciou Aglynes.
Por Suzana Martins – Equipe Repórter Manaós
