
A ordem natural da vida diz que os filhos enterram os pais. Mas a Covid-19 já inverteu essa ordem e partiu o coração de 113 famílias no Amazonas. São pessoas que perderam crianças e adolescentes dentro de casa neste pouco menos de um ano de pandemia no Estado. Os dados oficiais da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) são de doer. E servem de alerta para quem anda por aí com seus filhos, achando que são imunes. Não são!
Ao todo, até esta quinta-feira (11), 33.453 crianças e adolescentes adoeceram de Covid no Amazonas, 1.766 foram internadas e 113 perderam a vida. Destas mortes, 41 foram de crianças menores de cinco anos.
23 foram de crianças entre 5 e 9 anos, de 10 a 14 anos foram mais 12 vidas perdidas, e, por fim, mais 37 mortes de 15 a 19 anos. Ainda que a Covid seja mais letal entre os mais velhos, não há como negar que cada vida perdida tão jovem aumenta a dor coletiva nesta pandemia no Amazonas.
“Dói ver uma criança morrendo sem ver os pais. Fica muita coisa não trabalhada no luto desses familiares, de não ter visto, de não ter acompanhado de perto fisicamente a piora. Por mais que a gente tente explicar por telefone, muita coisa não está sendo vista e vivida.” O depoimento dado pela pedatra Cinara Carneiro, que trabalha em Fortaleza, viralizou nas redes sociais e mostra bem o tamanho desse drama.
“Quanta fantasia não fica? Quanta coisa imaginada e não vivida fica? Só o tempo é que vai, depois, trazer essas feridas”.diz a médica do Hospital Infantil Albert Sabin.
Em depoimento à BBC esta semana, Cinara expôs uma mensagem que precisa ser vista como um alerta. Os pais sofrem, mas os filhos doentes também sofrem e merecem proteção para que não peguem a Covid.
Um adoelscente de 14 anos, antes de ser intubado e morrer, fez um pedido à médica. “Não quero que minha mãe sofra, não quero que minha mãe sofra”. A médica tentou acalmá-lo. Ele não tinha nenhuma doença prévia, mas morreu. “Eu falei: ‘Você está precisando de ajuda para respirar. Eu vou tentar te ajudar nesse momento, mas você vai receber medicação para dormir, para não sentir dor. E a gente vai estar aqui conversando quando você acordar'”.
