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A luta de um professor entre a vida e a morte contra a Covid em Manaus

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Foi no leito da UTI, em Manaus, intubado e lutando contra a morte, que o professor de Geografia, Ian Toledo Lemos, de 38 anos, ficou sabendo, pela voz da sua  esposa, Lila, que o filho há seis meses em gestação seria um menino. Tão cruel quanto a sensação de que pode morrer de Covid é saber que está correndo o risco de partir, vítima do coronavírus, sem sequer ver o rostinho do bebê tão esperado.

O seio da família, já aconchegante pela presença da pequena Bel, de 3 anos, estava ameaçado de perder o pai para o inimigo invisível. Essa é a história que você vai conhecer com exclusividade agora, pelo portal Repórter Manaós. São pais, mães, esposos, esposas, filhos e corações em aflição, lutando a cada dia pela vitória, apertados. Não são números.

Há mais de um mês Ian enfrenta a Covid. Os primeiros sintomas surgiram no dia 23 de dezembro, às vésperas do Natal. Entre idas e vindas ao médico, o pior aconteceu no dia 30, quando o dedicado professor de jornada dupla caiu no banheiro, a saturação estava a 12%. “Cheguei no hospital já com as pernas bambas”, recorda, ainda sem saber que não era o pior dos momentos.

Obeso, mas sem nenhuma doença pré-existente, Ian viu a Covid derrubar seu sistema imunológico, fragilizado pela alimentação desregrada pela rotina puxada de dedicação aos alunos da Semed e da Seduc. “É preciso levar a Covid a sério, cuidar da alimentação. Eu mesmo vou fazer isso agora.”

INTUBADO

Dois dias após dar entrada no hospital e fazer tratamento com o método de ventilação não invasiva, Ian precisou ser intubado. Foi quando ficou sabendo que o casal esperava um menino. Lian, seis meses de gestação, estava para chegar, sem saber que o pai poderia partir antes. “Eu, mesmo na UTI pedi ajuda a Deus. Depois de Deus agradeço à minha esposa, que mesmo grávida de seis meses lutou comigo. Também agradeço aos amigos e à família. E mesmo com muita febre, eu vi os muitos técnicos de enfermagem, médicos e nutricionistas que doam suas vidas para nos salvar.”

No dia em que o professor Ian foi intubado, mais três pacientes também precisaram recorrer ao mesmo método. “Só eu sobrevivi”, conta, com a voz embargada pelos que se foram. Foram dez dias de luta intensa. “Tive muita febre e tremores. Fiquei no morre não morre”, recorda, ofegante, ainda sequelas da batalha vencida.

EM CASA 

Hoje, em casa, a rotina é de fisioterapia e melhora gradual a cada dia. Ian sabe que a Covid vai embora, mas as marcas ficam. Vitorias como conseguir falar e tomar banho sozinho são conquistas para quem viu a morte de perto. “Andar de moto, treinar judô e ir na rua sozinho só daqui a seis meses.”, calcula, enquanto é acompanhado pela fisioterapeuta, nefrologista e equipe médica, após perde 14 quilos em 30 dias.

Para o professor a Covid deixou muitas lições, inclusive aquelas que o Brasil dos privilegiados sempre fez questão de fingir não existir, mas que o coronavírus jogou holofotes. “A Covid mostrou a nossa desigualdade. Quem tem um bom plano de saúde faz bom tratamento. E quem não tem? Esses dias saí de casa e vi um ônibus lotado, pessoas sem máscaras. Eu sou um funcionário público, estou em casa e recebendo. Mas muitos precisam trabalhar para ganhar a vida. Como que faz?.”

Foto: Arquivo pessoal

Com mais de 273 mil infectados e mais de 8.500 mortes, o Amazonas não foge à regra. Sem leitos de UTI no interior, vítima de uma mutação contagiosa misturada à falta de cuidados básicos da população, somos o prato cheio para o coronavírus.

Ian, com a autoridade de quem está na luta contra a infecção, pode falar de camarote. “Eu dei sorte. Deus me preservou. Hoje estou aqui lutando em casa, mas se eu não tivesse Hapvida e fosse contar com o plano da Prefeitura eu estava morto. Vários colegas morreram porque não têm plano de Saúde. O Artur ficou 8 anos no Governo e não deu um plano digno para os funcionários públicos do município.”

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