Início Destaque Mortos por Covid não são só números: “Viver sem minha mãe é...

Mortos por Covid não são só números: “Viver sem minha mãe é uma dor sem tamanho”
Luto e respeito

946

Entrar na feira de Iranduba e passar pela barraca da dona Graça, mais conhecida como “Graça da Feira” era uma obrigação. Ela estava lá, bem na porta de entrada, matando a fome do povo com suas comidas saborosas e distribuindo simpatia. Até que em abril vieram os sintomas da Covid.

A querida feirante que por 34 anos suou para sustentar os filhos que criou sem a presença do pai, estava infectada pelo coronavírus, ainda na primeira onda, quando quase nada se sabia sobre a doença. Lamentavelmente, duas semanas depois, no dia 16 de abril, a feira perderia Graça. Ela seria uma das primeiras a perder a vida na cidade, precocemente, com apenas 55 anos.

Uma mulher que viveu para os filhos

Graça deixava para trás os três filhos, 10 netos e uma bisneta. Deixava também o amor como exemplo, e a solidariedade de quem dava comida a quem chegasse na sua barraca sem dinheiro. Nesta terça-feira em que completamos a triste marca de 10.100 mortos, ouvimos um dos filhos de dona Graça.

Hélio Souza tem o coração apertado pela dor de perder sua mãezinha. Não são apenas números. São histórias de vida que a Covid interrompe. “Sempre que sonho com minha mãe vejo a imagem dela sorrindo. A saudade é imensa. Não tem tamanho para descrever”, disse o filho saudoso.

Hélio Souza, Marcos Souza e Ronde Souza foram a razão da vida desta cozinheira de mão cheia. Se dona Graça foi mestra nos sabores, foram eles a prioridade de ter a barriga cheia. “Ela não foi uma simples mãe. Foi amiga, uma irmã, foi pai, companheira. Uma pessoa que ajudava a todos. Quando éramos crianças, ela deixava de comer para nos dar. Como um passarinho. Minha mãe viveu intensamente para o trabalho e a família.”

LUTO SEM FIM 

Iranduba é o quinto município do Amazonas com mais casos de Covid. Já são 6.622 infectados, com 115 vidas perdidas. A cidade passou um grande sufoco em janeiro, com falta de oxigênio no Hilda Freire, Nesse momento, Hélio viu o pai adoecer e também teve de correr atrás para salvar a vida dele, o que felizmente conseguiu.

Dona Graça e Hélio, amor eterno

“Deus dá, ele tira. Não cabe a nós julgarmos. Temos de aceitar a vontade de Deus. Viver sem minha mãe é muito difícil. Nunca é aquilo que a gente espera. É difícil de falar. Minha mãe era o sustento, o esteio da família, a coluna principal. Só Deus para descrever o que minha mãe foi nesta terra. Faz muita falta para todos nós.”

É isso o que a Covid tem feito nas famílias de todo o mundo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui