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Seca nos rios deixa moradores com prejuízos no Amazonas: ‘estamos parados’

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Foto: Guilherme Neto - Repórter Manaós

NORTE – Todos os anos, quem mora no Amazonas vive momentos de apreensão com as vazantes dos Rios Negro, Solimões, Purus, Madeira e Amazonas. Cada município divide o mesmo drama. Em 2022 como não é diferente, o Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas (Sindarma), emitiu em agosto, alerta sobre as condições de navegabilidade.

Durante a estação de seca (abril a outubro), o principal problema enfrentado por quem navega pelos rios é o aumento dos riscos das embarcações ficarem encalhadas em bancos de areia e outros perigos, como; bater em pedras ou árvores. Além do prejuízo financeiro, quem precisa vender produtos nas cidades, enfrentam a demora para chegar nas localidades.

Lanchas que saíram do distrito do Cacau Pirêra e ficaram atracadas no Porto de Manaus – Foto: Arquivo Pessoal

No distrito do Cacau Pirêra, em Iranduba, Região Metropolitana de Manaus, a seca tem trazido prejuízos para quem trabalha no Rio Negro, fazendo a travessia dos moradores até a capital.

Exemplo; trabalhando há 30 anos no Porto do Cacau, o empresário Rubernilson Teixeira conta que suas lanchas e as dos demais colegas estão praticamente paradas. “Estamos com um grande prejuízo, como a vazante está maior do que os anos anteriores, estamos com elas [lanchas] 100% paradas. Levamos para Manaus onde estamos fazendo passeio para os turistas somente no final de semana. A gente tem que trabalhar nem que seja uma vez por semana, porque a travessia Cacau/Manaus parou“.

“Menos de 50% das lanchas fazem turismo, o restante ficam paradas quando a seca é grande”, afirma o empresário – Foto: Arquivo Pessoal.

Conforme Rubernilson, a categoria está sofrendo com a estiagem. “Nas outras secas, pagavamos R$ 500 para o ônibus pegar os passageiros no porto e transportar na estradinha que aparece, mas nesse ano não deu. Tá muito longo a metragem e não ficou viável.

SECA NA FRONTEIRA 

Distante cerca de 1.106 km da capital amazonense, o município de Tabatinga, também enfrenta a pior seca de todos os anos. A reportagem do Portal Repórter Manaós conversou com a professora da Universidade Federal do Amazonas – Instituto de Natureza e Cultura-INC e pesquisadora Taciana Carvalho, que relatou as dificuldades enfrentada na região fronteiriça.

Imagem: Google Maps

“Eu trabalho na cidade de Benjamin Constant, mas resido na cidade de Tabatinga e temos acompanhado essa questão dos extremos. Secas cada vez maiores e cheias cada vez maior, e esses extremos é que é preocupante, porque tendem a ser no futuro um processo de desertificação e ao longo dos anos a gente tem verificado um aumento cada vez maior das secas mais elevadas e isso contribui para mudança socioambiental e econômica da região“, relatou a pesquisadora.

Professora e pesquisadora Taciana Carvalho no meio do Rio Solimões entra as cidades de Benjamin Constant e Tabatinga – Foto: Arquivo Pessoal

De acordo com Taciana as mudanças estão atingindo a vida e o dia a dia das pessoas. “Estamos numa região onde o fluxo na fronteira é determinante para todo o aspecto social, as pessoas, o fluxo comercial, transite e aumente a dinamita de pessoas e comercio, a troca de capital e a questão da educação, o fluxo das pessoas nesse vai e vem. Como pesquisadora na região, verificamos que essa seca tem delimitado as questões de abastecimento e trazendo diferente analises. No caso, podemos pensar, no período da seca as várzeas estão livres para produção agrícola e agroflorestal  com um período de muita fartura. Porém, observamos que aumentou drasticamente o percusso das pessoas que saem de suas comunidades para levar seus produdos para comercialização. As praias estão cada vez maiores e nesse processo as dificuldades aumentaram”.

 

MEDIÇÃO DO NÍVEL DO RIO SOLIMÕES EM TABATINGA 

Fonte: Capitania dos Portos de Manaus

Nesta terça-feira (1º) o nível de águas do Rio Solimões na fronteira começou a subir levemente. “Se observarmos a régua de medicação [acima] da Capitania dos Portos de Manaus, em novembro do ano passado o rio estava 4 metros e 91, hoje, em 1º de novembro estamos 4,92, ou seja, está 11 centimetros a mais do que o ano passado e rapidamente subiu. Essa semana foi primordial para sairmos de um estado de seca, de área fechadas e passamos abriu o canal e os barcos pequenos começaram a passar, ainda não liberados as embarcações grandes”, confirmou a pesquisadora.

A Defesa Civil do Amazonas apontou 16 municípios em situação de atenção e outras 25 em estado de alerta, nesta segunda-feira (31). Segundo o relatório de estiagem os municípios de Amaturá, Benjamin Constant, Japurá, Tefé, Uarini, Maraã, Alvarães e Coari, estão em situação de emergência.

“Esta reportagem foi produzida com apoio do programa Diversidade nas Redações, da Énois, um laboratório de jornalismo que trabalha para fortalecer a diversidade e inclusão no jornalismo brasileiro. Confira as metodologias na Caixa de Ferramentas

Texto: Guilherme Neto e Suzana Martins – Repórter Manaós 

 

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