UTIs lotadas, sala de medicação lotada, gente pedindo para ser internada, outros pedindo para não morrer. Profissionais de saúde adoecendo e indo para a fila de espera sem saber se morrerão antes de conseguir que um colega os salvem. Abalo psicológico, pânico e, sobretudo, a certeza de que a Covid está sem controle. Esse é o relato de um profissional que trabalha dentro da rede privada em uma das unidades particulares mais renomadas do Amazonas.
Médicos, enfermeiros, maqueiros, fisioterapeutas, porteiros, motoristas de ambulâncias, pessoal da limpeza e todos os profissionais envolvidos dentro dos hospitais. Todos que estão na linha de frente passam pelos mesmos desafios e medos. Todos estão sob risco. “Ontem testemunhei pessoas pedindo ajuda com falta de ar. É muito triste não poder fazer nada. As medicações só dão um alívio para dor. Mas a falta de ar permanece.”, contou com exclusiva, pedindo anonimato.
NÃO HÁ VAGAS
Há uma semana os hospitais particulares foram avisando que estão sem vagas. Santa Júlia, Check Up e Adventista estão na lista macabra. Não tem mais leito. Não é falta de dedicação dos profissionais. É o poder desolador de um vírus que se multiplica fervorosamente e manda mais gente para os hospitais do que qualquer sistema é capaz de cuidar. “Ontem tínhamos 14 pacientes aguardando vaga. Inclusive um médico nosso que estava há dois dias aguardando vaga. Ontem subiu para UTI, para intubar.”, conta nosso entrevistado, que cumpre jornadas de 12 horas nas trincheiras desta guerra.
MARIDO NA FILA, ESPOSA E FILHO NA UTI
Uma cena terrível na madrugada de sábado. Um idoso, de 81 anos pede para ser internado. Não há vaga. Lá dentro, entre os pacientes que ocupam os leitos, estão a esposa e o filho dele. “Marcou ver aquele olhar pedindo socorro. Conversei com ele falei para ele ter fé. Que ele ia ficar bem. Ficou mais calmo. Até a hora que eu saí ele ainda tem força para me agradecer.”
MÉDICOS ADOECENDO
Nosso entrevistado pegou Covid em abril. Esta semana, voltou a ter dores no peito e está com medo. “Não sei se é ansiedade. Se a dor no meu peito não passar, eu vou no Pronto atendimento, talvez eu esteja reinfectado.” Entre a saúde física e a psicológica, a linha é muito tênue. Estar na guerra, ver pessoas morrendo e saber que pode ser atingido por um disparo causa pânico, insônia e sensações confusas.
“Daqui a pouco vai faltar profissionais da saúde. Estamos perdendo médicos e colegas de profissão. Ontem à noite não consegui dormir. Com dor no peito. E o povo ainda brinca com a situação. Estamos numa guerra.”
Não há trégua. Apenas pequenas vitórias. “Estamos exaustos, mas não temos outra alternativa, a não ser lutar contra esse vírus e tentar salvar o máximo que podemos. Mesmo que você tenha boa condição financeira, não tem vaga.”
FICA EM CASA!!
Dito tudo isso, por quem está no front, fica o depoimento deste profissional. Você, saudável, não brinque com coisa séria. “Agora a questão é se conscientizar. A questão não é só nossa vida, é a vida da nossa família, dos nossos idosos, dos profissionais da saúde e de toda população. Pense no seus pais. Pense no seu vizinho que tem doença crônica. Não é questão política, temos que acordar para realidade dos fatos. A Covid mata e se não unirmos nossas forças infelizmente vamos perder muita gente! Vamos nos prevenir usando as máscaras, higienizando as mãos. Evitando aglomeração.”
NÚMEROS
O Amazonas tem 5.235 mortos pela pandemia. 201.867 casos, 867 pacientes internados, sendo 519 em leitos (199 na rede privada e 320 na rede pública), 321 em UTI (118 na rede privada e 203 na rede pública) e 27 em sala vermelha. Há ainda outros 328 pacientes internados considerados suspeitos e que aguardam a confirmação do diagnóstico. Desses, 240 estão em leitos clínicos (133 na rede privada e 107 na rede pública), 63 estão em UTI (51 na rede privada e 12 na rede pública) e 25 em sala vermelha.
Fora a subnotificação!!
