
Manaus ferveu neste sábado. Foram tantos protestos contra o decreto do governo do Amazonas, que Wilson Lima cedeu. Mas se as autoridades cedem, a Covid não. Até o dia 26 de dezembro foram 884 pessoas internadas com a doença. De agosto, quando chegamos ao menor nível, até dezembro, o aumento de internados foi de 178%.
Em agosto tivemos 318 hospitalizados e a sensação de que a pandemia acabou. E foi aí que a segunda onda começou. “Não deixando qualquer margem de dúvida sobre o agravamento da epidemia em Manaus, durante a segunda onda de contágio e mortalidade por COVID-19!”, afirma o pesquisador da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana.

Os números oficiais da Fundação de Vigilância em Saúde deste sábado não deixam margem para negociações. O vírus não cansa. “Entre os casos confirmados de Covid-19 no Amazonas, há 598 pacientes internados, sendo 359 em leitos (99 na rede privada e 260 na rede pública), 235 em UTI (75 na rede privada e 160 na rede pública) e quatro em sala vermelha. Há ainda outros 144 pacientes internados considerados suspeitos e que aguardam a confirmação do diagnóstico. Desses, 99 estão em leitos clínicos (45 na rede privada e 54 na rede pública), 41 estão em UTI (24 na rede privada e 17 na rede pública) e quatro em sala vermelha.”
Sem vacina e sem juízo, a Covid não tem adversários. Enquanto empresários e trabalhadores comemoram a flexibilização do decreto a partir desta segunda-feira, profissionais de Saúde e pesquisadores respiram fundo à espera do que virá nos primeiros dias de janeiro. “A radical alteração do Decreto, a suposta intenção de conter a circulação viral em Manaus, fica seriamente comprometida, caso não sejam tomadas medidas mais sérias e duradouras em janeiro de 2021.”, alerta Orellana.

A flexibilização do decreto, que deixa o comércio aberto das 8h às 20h, é como uma terceirização da responsabilidade. Empresários ficam com a obrigação de transportar trabalhadores em segurança, dar máscaras, álcool gel e até mesmo de prestar assistência médica aos colaboradores infectados.
O Amazonas tem 23.496 pessoas com diagnóstico de Covid-19 acompanhadas, 196.007 casos da doença confirmados e 5.173 mortes. Além de uma subnotificação mais difícil de acertar do que os números da Mega da Virada. “Desde sempre temos buscado encontrar um equilíbrio entre a proteção da vida, a ampliação da nossa rede de saúde e também o funcionamento de atividades econômicas para garantir emprego e renda para as pessoas. Depois de uma longa reunião que nós tivemos aqui com os poderes, com deputados e com a maior quantidade possível de representantes das atividades econômicas, chegamos a um entendimento de flexibilização a partir de segunda-feira (28/12)”, terceirizou o governador na madrugada deste domingo.

Com a imagem abalada por denúncias na Procuradoria Geral da República, Wilson não teve autoridade para manter o tardio decreto. Os números sobem, o sistema de Saúde não dá conta, quem perde parente coloca a culpa no Estado. Quem perde emprego também. Enquanto isso, piedade, o vírus avança pelas ruas, rios, estradas, barcos. Uma bala sem rumo, que pode nos pegar a qualquer momento.