
A condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe deve intensificar, nos Estados Unidos, ameaças e sanções semelhantes às aplicadas contra Alexandre de Moraes — agora com potencial de alcance aos demais ministros do Supremo Tribunal Federal. A avaliação é de Christopher Sabatini, pesquisador sênior do Programa América Latina da Chatham House, em Londres.
Segundo Sabatini, a crise entre Brasil e EUA tende a se aprofundar após o veredicto, com movimentos do governo Trump para influenciar processos internos brasileiros. Na sua visão, aliados do ex-presidente americano buscarão apoiar o partido de Bolsonaro e seus filhos na campanha de 2026, mirando ampliar força no Congresso para agendas bolsonaristas — inclusive iniciativas como impeachment de ministros que votaram pela condenação.
Para o pesquisador, o voto divergente do ministro Luiz Fux alimenta a narrativa de que o julgamento teria sido injusto. Ele critica o uso de sanções por parte de Washington contra autoridades brasileiras, classificando a prática como abuso da soberania nacional e um desvio do propósito original da Lei Magnitsky. Ainda assim, prevê “mais sanções e ameaças”, inclusive a integrantes do governo Lula, como restrições de viagem.
Sabatini afirma não ver risco real de ação militar dos EUA contra o Brasil, mas alerta para a retórica inflamada e a normalização de excessos no debate público. Ele considera “profundamente perigoso” personalizar ataques a juízes e aponta que a atenção atual de Washington à América Latina é “a atenção errada”, guiada por afinidades políticas e disputas com plataformas e figuras específicas.
O pesquisador também avalia que a pressão norte-americana pode repercutir na política interna brasileira, estimulando discussões sobre anistia a Bolsonaro e outras medidas no Legislativo. Para ele, trata-se de uma nova forma de intervenção, “abertamente partidária”, com potencial de corroer a confiança nas instituições.
Ao projetar os próximos passos, Sabatini diz que o cenário é inédito e incerto, mas aposta em esforço redobrado nas eleições de 2026: a prioridade, segundo ele, será manter a disputa viva e buscar moldar a composição e o alinhamento do STF — com Trump e aliados pouco inclinados a recuar.