
“A motocicleta ainda é um dos principais causadores de mortes no trânsito. Até setembro do ano passado foram 81 óbitos sobre duas rodas contra 102 este ano, um aumento de 25%. Esse aumento começou a se acentuar no mês de maio, quando a procura por serviços delivery cresceu em Manaus. Contudo, a maioria das pessoas que passa a exercer essa atividade não possui o curso de capacitação para atuar no trabalho. Só 1% dos condutores habilitados para pilotar moto possuem o curso de motofretista, exigido pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para quem trabalha com entregas sobre duas rodas”. Esta afirmação é de uma nota oficial emitida pelo Detran, semana passada, e mostra o tamanho do perigo.
Além dos mortos, há os que sobrevivem mas que enfrentam sequelas, deixam de trabalhar, ficam aleijados em cima de uma cama, andam de muletas, tem parafusos no corpo e trauma na mente. Aos que ficam, a dor. Aos que parte, a saudade.

Há também a dor dos familiares que choram suas perdas. A pandemia aqui é em cima do asfalto, nas calçadas, nas estradas de terra batida. No interior ainda é pior. Pois é comum ver até crianças pilotando moto como se fosse algo normal e correto.
É uma verdadeira guerra, com mutilados, feridos e óbitos.

O Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (Detran-AM) afirma que intensificou a fiscalização às motocicletas devido ao grande número de acidentes de trânsito envolvendo esse tipo de veículo em Manaus. Mas as ações frequentes ainda não são suficientes. De janeiro a setembro deste ano, mais de 8,8 mil pessoas foram aos leitos dos principais prontos-socorros da cidade por causa do veículo de duas rodas.

OPERAÇÃO
Todo o fim de semana o Detran vai às ruas em busca de infratores sobre duas rodas. Durante a operação realizada no último fim de semana, foram aplicados 190 autos de infrações por diversas irregularidades. Isso resultou em 37 veículos removidos, sendo 32 motocicletas. A fiscalização também flagrou dez motoristas embriagados ao volante que foram autuados pelo crime previsto no artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

Embriaguez, desrespeito às regras, falta de preparo, falta de manutenção, pressa ou simplesmente o inexplicável desprezo pela vida. Não faltam motivos para acidentes.
DELIVERY NA BERLINDA
Mas apenas colocar a culpa no lado mais fraco da moeda certamente não é a solução. Em julho, os entregadores de Delivery protestaram contra as péssimas condições de trabalho. Precisam entregar o maior número de pedidos possível, ganham mal e além de arriscar a vida dos outros, também correm risco de morte.

Enquanto algumas empresas forneceram equipamentos e insumos como álcool em gel, outras ainda não tomaram medidas. Eles pedem também um seguro saúde em caso de contaminação ou de acidentes. Publicações nas redes sociais de grupos de entregadores registraram paralisações marcadas em pelo menos seis unidades da Federação: São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Paraná.
Em Manaus, basta andar pelas ruas para vê-los pra lá e pra cá, na pressa pelo lucro dos empresários e na oração para que terminem o dia vivos.
Triste realidade do Capitalismo selvagem.