
AMAZONAS – “Aqui ficou muito movimentado assim que as pontes no Careiro caíram e a população, assim como o comércio não estavam preparados. Temos poucas pousadas e restaurantes. Tem pessoas dos Brasil todo que chegam atrás de comida por volta das 15h e não encontram, enquanto, os caminhoneiros estão lá no Barro Alto passando dias tentando embarcar numa balsa pequena que só sai uma vez ao dia. Mesmo assim, com muita tristeza estamos acolhendo todos”, disse dona Maria Silva, de 75 anos, moradora do município de Manaquiri (distante cerca de 4 horas 58 minutos de por lancha e 165 km pela BR – 319, de Manaus.

Com quase 40 mil moradores, Manaquiri se tornou a nova rota de transporte para os caminhoeiros, carreteiros e turistas de todo o Brasil após a queda de duas pontes, a primeira foi no dia 28 de setembro, por volta das 8h, sobre o Rio Curuçá (Rio Amazonas) deixando quatro mortos, 14 feridos e, pelo menos, um desaparecido. Na ocasião o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que só veículos leves estavam autorizados a transitar no local.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) também comentou que, por orientação do próprio Dnit, havia interditado parcialmente a ponte, na segunda-feira (26), por causa de más condições na estrutura e confirmou o trânsito de veículos pequenos.
Dez dias depois do primeiro desabamento, mais uma queda, dessa vez, ponte sobre o Rio Autaz Mirim, por sorte, ninguém se feriu. O trecho atingido que liga Manaus ao Estado de Rondônia e é caminho para cidades como Autazes, Careiro Castanho e Manaquiri.
Naquele período de tempo o governador do Amazonas, Wilson Lima, decretou situação de emergência, tento em vista, que cerca de 100 mil pessoas foram afetadas. “Temos ali a questão do escoamento da produção, desabastecimento de alimento, de remédio, de combustíveis.”, disse.
Decretamos Situação de Emergência nos municípios de Careiro Castanho, Careiro da Várzea e Manaquiri, devido ao problema com as duas pontes na BR-319.
— Wilson Lima (@wilsonlimaAM) October 10, 2022
Nosso objetivo é diminuir os impactos provocados pela interrupção do tráfego, que está comprometendo o transporte de pacientes, alunos, produtos essenciais e insumos. A manutenção da BR-319 é atribuição do Governo Federal. O Estado está presente, dando suporte ao povo da região.
— Wilson Lima (@wilsonlimaAM) October 10, 2022
Prestes a completar um mês da tragédia Manaquiri tem passado por dias de luta. O novo ponto de embarque e desembarque de caminhões pesados fica na comunidade Barro Novo e em dias de chuva tratores da prefeitura precisam dar apoio aos motoristas, tanto no nivelamento da estrada de barro que quando chove vira lama, quanto no suporte de guia para os veículos não deslizarem durante a subida.

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“Em média passam por aqui 20 a 25 carretas por dia”, confirmou Érica Freitas, representante da prefeitura de Manaquiri, que está chefiando a equipe que organiza o fluxo de caminhões.
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SUFOCO
Praticamente ilhados, amigos Leandro Dias e Luiz Silva esperavam desde às 7h da manhã do último sábado (22) chegar ansiosos em Manaus, eles estavam viajando de Boa Vista em um dos ônibus que fazem o serviço de transporte que liga as duas cidades e sujos de barro relataram o cansaço e sufoco que estava sendo a travessia.

“Está muito difícil! Já estamos aqui há horas e a previsão de sairmos desse ponto [trecho de terra do Rio Curuçá, onde foi construído pelo Exército Brasileiro um acesso de barro batido] é às 13h e chegaremos no Manaquiri, por lá, vamos pegar a última lancha que saí às 15h, mas tem pessoas aqui que vão esperar uma das balsas que saem uma vez ao dia”, relatou Leandro, técnico de informática que está indo visitar a família e pediu com delicadeza para não ter sua foto divulgada.
Já o estudante de enfermagem Luiz Silva, de 23 anos, contou que seus pais estão com dificuldades de comprar alimentos para os animais do pequeno sítio onde moram. “Tudo ficou mais caro depois que as pontes caíram. A gasolina subiu e o preço da ração foi as alturas. Não sabemos como vamos fazer”.
ACESSO CONSTRUÍDO
Por meio de nota, o Departamento Nacional de Trânsito (Dnit) informou que, ao longo desta semana, as ações estão focadas na execução do aterro que integra o sistema de drenagem da travessia seca no rio Autaz-Mirim.

“Com a finalidade de proteger e garantir a integridade da tubulação, o aterro terá cerca 1,50 metro de altura acima das linhas de tubos. Até o final desta semana, esta etapa de implantação da passagem seca de 30 metros de extensão será concluída e a travessia poderá ser liberada” diz a nota.
Agora sobre o rio Curuçá, o órgão informou que que concluiu os acessos necessários para a atracação da balsa que irá realizar a travessia no trecho.
“Desta forma, ao finalizar a passagem seca, o Dnit restabelecerá por completo a trafegabilidade da rodovia, direcionando todos os esforços para a reconstrução das pontes”, finalizou.
Porém, até está segunda-feira (24), o acesso não estava concluído.
“Esta reportagem foi produzida com apoio do programa Diversidade nas Redações, da Énois, um laboratório de jornalismo que trabalha para fortalecer a diversidade e inclusão no jornalismo brasileiro. Confira as metodologias na Caixa de Ferramentas”
Texto: Guilherme Neto e Suzana Martins – Repórter Manaós