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Médico de Parintins dispara contra realização de Festival: “É uma afronta à inteligência”
Caprichoso e Garantido na mira da Medicina

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Direitor do enfrentamento da pandemia de covid-19 em Parintins, vítima que sobreviveu ao coronavírus após longa batalha pela vida em São Paulo, o respeitado médico Daniel Tanaka fez um texto em seu Facebook para atacar a ridícula proposta de Caprichoso e Garantido de realizar Festival Folclórico em novembro. “Sobrepor motivação financeira aumentando a mortalidade é extrapolar o limite do razoável para um ano de imenso sofrimento. Talvez os que defendem tal ideia não devam ter perdido um pai, uma mãe ou um grande amigo para a Covid 19”.

Tanaka foi um caso suspeito de reinfecção, já que chegou a ser considerado curado e depois adoeceu novamente, indo parar em São Paulo. Especialista em Saúde, ele desmonta no texto a falácia de Caprichoso e Garantido de que é possível fazer festa com proteção. “A segunda visão, que discute viabilidade do evento, no qual as agremiações defendem a realização segundo estudos ( os quais foram citados pelos Bois, e não foram apresentados, mesmo após requisição pela Defensoria Pública, podendo configurar crime de desobediência portanto) é totalmente rasa, superficial. Não há estudos conclusivos sobre a questão da imunidade e controle da pandemia no âmbito do Estado e, em especial, do município de Parintins.”

Caprichoso e Garantido ancunciaram na semana passada que farão o Festival em novembrom enquanto eventos como Jogos Olímpicos e corridas de Fórmula 1 foram adiados. Esta semana o Carnaval do Rio saiu da agenda oficial. “Com relação aos Bois, quando defendem tanto os trabalhadores, que terão prejuízos com a não realização da festa, a de se destacar que historicamente essa preocupação com os trabalhadores não é prioridade para eles, visto o enorme déficit que possuem em processos trabalhistas que não fizeram questão de honrar. Então, desculpe a sinceridade, não cola esse argumento”.

 

CONFIRA O TEXTO NA ÍNTEGRA 

NÃO AO FESTIVAL 2020

Existem dois modos de enxergar a possível realização da festa.
A primeira visão é uma questão de bom senso e de sensibilidade com as famílias enlutadas. Nessa visão, proceder a um festival que vai aglomerar pessoas de forma singular e com alto potencial de explosão nas contaminações ( é ilusório e até infantil acreditar que haverá respeito a medidas sanitárias como de distanciamento social) é, ao meu ver, ser insensível às quase cem famílias parintinenses que tiveram a perda do ente querido. Além de insensibilidade, é ao meu ver falta de respeito.
A grandiosidade do festival como manifestação folclórica e a importância econômica do mesmo não se sobrepõe ao momento de tristeza. E aumentar o nível de contaminação, que de fato acontecerá caso o festival seja realizado, é diminuir a importância de cada vida perdida. É minimizar o valor da Vida. Sobrepor motivação financeira aumentando a mortalidade é extrapolar o limite do razoável para um ano de imenso sofrimento.
Talvez os que defendem tal ideia não devam ter perdido um pai, uma mãe ou um grande amigo para a Covid 19.

A segunda visão, que discute viabilidade do evento, no qual as agremiações defendem a realização segundo estudos ( os quais foram citados pelos Bois, e não foram apresentados, mesmo após requisição pela Defensoria Pública, podendo configurar crime de desobediência portanto) é totalmente rasa, superficial. Não há estudos conclusivos sobre a questão da imunidade e controle da pandemia no âmbito do Estado e, em especial, do município de Parintins. A diminuição da incidência de óbitos e internações não garante que a população esteja de fato imunizada. Traduz sim que as medidas de distanciamento e uso de máscaras têm significância, mas não tem valor preditivo que se possa colocar à prova num evento em que é impossível dizer que respeitará medidas sanitárias cabíveis. É uma afronta à inteligência das pessoas querer que acreditem que essas medidas sejam plausíveis.
Já o Estado do Amazonas, caso se posicione a favor da realização da festa, estaria desrespeitando a desastrosa história recente a qual foi protagonista desse desastre, o qual contou inclusive com câmaras frigoríficas para armazenar corpos na porta de hospitais. O Governo, ao não ter se preparado para o enfrentamento de maneira adequada e precoce, passou longe de ser um exemplo no quesito previsões epidemiológicas.
Se a gestão municipal não tivesse tomado medidas de prevenção, visando o distanciamento, como o decreto da obrigatoriedade do uso de máscaras e do toque de recolher, e não tivesse dado ouvidos ao corpo de saúde para se armar de maneira precoce para o enfrentamento da pandemia, não estaríamos chorando a morte de 92 cidadãos e cidadãs até então, mas possivelmente de milhares de mortos.

Esperar, portanto, do Governo do Estado e seus órgãos de vigilância, estudos ou previsões sobre viabilidade de eventos como um festival que reúne milhares de pessoas num ambiente festivo, numa cidade-ilha, e confiar nesses estudos, é creditar uma catástrofe.
Com relação aos Bois, quando defendem tanto os trabalhadores, que terão prejuízos com a não realização da festa, a de se destacar que historicamente essa preocupação com os trabalhadores não é prioridade para eles, visto o enorme déficit que possuem em processos trabalhistas que não fizeram questão de honrar.
Então, desculpe a sinceridade, não cola esse argumento.
A pandemia ainda não teve fim. A Covid 19 ainda não tem cura. A vacina é apenas uma promessa no momento. A maioria das pessoas não estão ainda imunes.
Vamos respeitar esse duro momento.
Não se pode colocar à prova vidas de pessoas vulneráveis.
O brincante do festival de novembro, pode estar enterrando seu pai, sua mãe, seu avô ou sua avó em Dezembro, mês do nascimento de Cristo.
Não ao Festival 2020. Não sujem o nome desse patrimônio cultural de sangue.
O valor da Vida é Maior.
Sim ao Festival 2021. Será o maior é mais lindo Festival.
Daniel Tanaka
Médico, profissional de Saúde que vivênciou dezenas de óbitos e chorou dezenas de vezes com famílias enlutadas. Vítimas da Covid 19.

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